acordes

Fiz essa foto há tanto tempo que já não me lembro onde, só a certeza de que foi aqui em Bêagá, mas não sei precisar a autoria dessa arte mural.

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Os Caras – entre fel e mel & algodão e pedras

Eis aí uns caras pegando leve no pesado da Música. Perdoai-os, Leitor e Leitora, eles sabem o que fazem, quanto é pesado fugir da apatia, morte em vida, quanta demência há sob o sol sustenido maior, quanta ira em ré bemol menor, quanto riso na escala dó; notem que eles e elas sabem dos jorros de uma tristeza bem funda, percebem quase tudo ainda antes que ela desabe sobre a Aldeia, e soltam o verbo, o til, sol e chuva, acervo completo, sinônimos e antônimos, adjetivos e substantivos, soltam os cachorros, avisando do iminente, abrolhos ou abram os olhos – os caras avisam, comem e bebem mil e um dissabores e horrores, sofrem de algo que é para muito poucos: premonição, sim, esta é uma situação numa palavra que revela um conceito ausente, por exemplo, na sociedade de hoje onde cada esquina se quer uma verdade isolada, mas seus dedos são dedos sem mão, as mãos sem braços e braços sem tórax onde se fixarem. A Razão foi dormir ? Só existe ficção ? E a raiz da fala ? Quando veremos trilhas de fato, seiva boa neste mundo bonito de dar cegueira ? Escutem os caras pegando leve no pesado da clave de sol, lembrados de que o filósofo e musicista alemão Friedrich Nietzsche disse que “sem música a vida seria um erro.”

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Darlan

métodos – 2

Uma dupla venerável na manhã: ovos cozidos e café.

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Cada qual com seu método, e assim é que uns e umas iniciam o dia com pão com manteiga, e outros bebem um trago e fumam; outras há que não dispensam o mexido apetitoso do dia anterior, e há os que se deleitam em ler a bíblia, antes de irem para a luta, e as que se esbaldam com torradas, pão de queijo, leite com toddy ou com aveia; para outras tantas, um pedaço de bolo caseiro é tudo aquilo que querem na vida, sim, há quem não se vá sem comer uma banana ou maçã, outros alimentam-se com alguma música, e há também os que não se esquecem do comprimido; mas outras pessoas, não tendo alimento, saboreiam o vento e pressentem a tempestade, e mesmo assim, levantam-se, e abrem a porta do dia, e vão a ele.

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Pudim feito em casa. Que o dia seja leve para todos.

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Darlan

lugares – 3

FRAMINGHAM, Massachusetts – USA [Foto: Família Matos Cunha]

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QUANDO É O ANIVERSÁRIO DO SOL?

Quando é o aniversário do sol?

Precisamos de uma festa.

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Uma estadia aqui ou do outro lado do mundo

não mantém longe o estresse

só pelo rumor das coisas, pelos teores

das criaturas lá fora, com ânsia

de se cumprirem totais a qualquer custo.

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Quando é o aniversário do sol?

O que matou o ministro Abe?

O inquisidor espanhol Torquemada existiu, rosto de igreja?

Além de sua amada

Dulcineia, longe de quem mais morreu Dom Quixote?

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E tu aí, e nós aqui, de que frios sofremos

de fato: mais psíquico do que corporal?

Quando é o aniversário do sol?

Precisamos de uma festa.

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Barra do Rio Jacuípe, região do polo petroquímico de CAMAÇARI, Bahia – Brasil

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Água que somos, pó que não somos [conversa ultrapassada é essa de sermos pó], uma vontade existe nas pegadas, mas há quem não queira ir para lá, por exemplo, ir para o leste, e sim para o oeste, vice-versa, mas deve ir, devido às circunstâncias, sim, muitas vezes se faz o que não se quer. Entre na canoa.

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RIO ACIMA, MG (o famoso Rio das Velhas)

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Foste a lugares nunca antes pisados ou navegados, com a cara e a coragem, com pouco ou com muito entusiasmo, curvas e retas todos os caminhos têm, ladeiras, céu amplo de sol ou céu brumoso, foste a lugares que o sonho não foi capaz. Conte-nos algo, principalmente, dos lugares aos quais nunca foste… ainda não.

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BELO HORIZONTE, MG [Av. Paraná, centro]

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Domingo, seis e meia da manhã, o Mercadão Central, logo ali a dois, três quarteirões, é uma ótima opção para os crentes e os não crentes, é bótimo [bom com ótimo] para se pechinchar em cada banca ou em cada loja, comprar ilusões, espalhar alusões sobre o dia que se inicia, lembra, um dia só tem 1440 minutos. Depressa, ou perderás o bonde, melhor digo, perderás a Mãe Pressa.

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Darlan

lugares – 1

Elevador LACERDA – SALVADOR, Bahia.

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Na primeira vez em Salvador, passei o resto da noite e toda a madrugada lá embaixo, sim, eu chegara à noite, mochila nas costas, um cansaço de respeito. Com o novo dia já claro, fui para a parte alta da cidade, pelo elevador, e o resto foi muito bom, não conhecia nada e ninguém, fiz amizades no Mercado Modelo, bem ao lado de onde passara a noite, com o mar calmo, a três palmos do nariz. Levaram-me então para casa. “Não, nada de pensão ou de hotel… fique lá em casa, tem muito espaço, a minha família vai gostar de conhecer você.” Até hoje, séculos depois, as palavras da Cláudia e do Zé Carlos ressoam.

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BOSTON, EUA – O estádio GILLETTE, de 2001 a 2019, foi a casa do grande jogador de beisebol da equipe Patriots, Tom Brady. [Foto: Família MATOS CUNHA, BRA].

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Faz calor, canícula infernal, mas uma casa nesta rua não se abre, é uma concha ou vácuo. No calor sem trégua o ar escasseia, mas uma casa não se abre, não mostra suas caras, muda e surda, uma caverna de urtigões na aldeia. O colar do calor avança. Quando é o aniversário do sol ? Precisamos de uma festa.

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MEDINA, no vale do Rio Jequitinhonha, MG [nasci nesta cidade]. Praça Dr. Max Machado. À direita, o mercado municipal.

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Lembrei-me do famoso poema do Drummond – Confidência do Itabirano – a respeito da terra natal dele: “Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!” Bom, os amanhãs são teimosos, virão com suas cargas sobre os viventes, a verdade é que já nem há retratos, há fotos aos milhões, diariamente, apenas fotografias, em grande parte vazias, eu disse quase todas. Amanhã não será outra via crucis, e sim via de luzes, melhor acreditá-lo assim: Dia de luz, festa do sol. E já que milagres podem acontecer, algum dindim sobrando para o quindim.

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Bar do VALTINHO, em MEDINA, MG. Ah, em tempo: em MEDINA, cidade na qual nasci, os relógios andam para trás, eu disse os relógios, não a vida propriamente. conferir, e depois nos diga algo sobre a Experiência, sem atraso.

Darlan

aeiouar

MERCADO CENTRAL de BELO HORIZONTE – 05 fev 2023

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(aeiouar é um neologismo, acho até que mais do que isso, mais do que palavra, foi inventada por um tal João G Rosa. De vez em quando, ou de quando em vez, momentos especiais, eu a uso].

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Influencer. O que vem a ser isso, tanto disso se fala por aí, quando não sob tons escuros ? Influencer. Ouvi isso aí mesmo, aí, neste ambiente do mercado central, em frente ao Bar do Mané Doido. Eu já tinha feito as compras, bem cedo, e quando ia tranquilo pelas ‘ruas’ do dito mercado, rente a um dos bares nos quais se come e se bebe e se diverte de pé, de dentro de uma turma, ouvi que “Podem anotar que no máximo em dois meses Bolsonaro estará preso.” Sim, todo mercado ou toda feira é o país.

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MERCADO CENTRAL de BELO HORIZONTE, MG – [90 anos, cerca de 400 lojas/bancas]

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A solidez da solidão se faz no decorrer dos dias; a solidez de uma solidão se dá de modo sutil, passo a passo ela se desdobra e torna-se uma herança aberta em leque para quem queira: para descuidados ou, ao contrário, para quem está ciente da dor que é fingir um solriso em cada canto da boca, sempre com as bodas por virem, que nunca virão.

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MERCADO CENTRAL de BELO HORIZONTE, BH – 05 fev 2023

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Temperos – na Era dos Descobrimentos, eram chamados de especiarias, com o que europeus nunca sequer sonhavam, nunca nem de nada por nada faziam ideia do que fosse batata [Solanum tuberosum], tomate, cravo, canela, gengibre, cacau – aquele, sim, do diabólico enfeitiçador chocolate -, urucum, pimentas, etc mil vezes.

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Fratura do mínimo – em casa, fim de madrugada, uma topada com um ‘pé’ da cama, há uns dez dias. Não doeu nada, nada.

Com um pé atrás não se pode ir mais além do atraso; com um pé atrás é como agem os de hoje, e assim perpetuam a cegueira geral, retornam para casa, todos os dias, com uma peça a menos. Gente é bicho difícil. Onde gente – muitas vezes, nem sempre, problemas.

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Darlan