Monstrópoles Suicidades Cidades Vilas Aldeias Quilombos Vestígios Arqueologia Nada… e antes do Nada

Rua Luiz Gonzaga, BELO HORIZONTE
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As cidades têm ombros, pernas e pés, seu cérebro obra em conformidade com cada novo dia, porque cada novo dia trará novas atitudes, ainda que as mesmas, algo será levemente modificado, a cidade és tu, tua música sem saída, em geral , é música em ré sustenido, pelo que urgentemente é preciso melhorar, espantar este ciclo de infelicidade que finge ser feliz. As cidades, grandes e pequenas, atuam conforme o rumo que dás a elas. A cidade homenageia seus artistas, e também destaca os pioneiros que a ergueram, benfeitores e benfeitoras que até se descuidaram de si, e entraram de vez nas ruas, becos, passarelas, alamedas, creches, escolas, luzes e cruzes nos monturos da aldeia, que o amanhã é agora – segundo os crédulos.

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Segundo os que creem que a Razão revidará e entrará nos eixos, a cidade não será o túmulo das civilizações, não, sim, os esquimós continuarão na Groenlândia, no Ártico e na Antártida, e não virão vender bugingangas nas ruas do formigueiro, vender meio litro de sangue nas clínicas especializadas S/A., não, nenhum pequeno agricultor com a família deixará seu ermo, para que a Grande Aranha a receba, e algo muito ruim logo rondará, e o modo de vida de toda a família mudará por completo em pouco tempo, de tal forma que até um obtuso sabe disso.

Tornei-me um ralo, um escovão desgastado, inútil, oui, Mademoiselle, yes, Ladies and Gentlemans, eu também me tornei em algo que eu não quero, em algo muito menos do que o mínimo divisor comum. Lembras das aulas de matemágica ? Não ? Queres teus calcanhares e cotovelos sendo sempre ralados, queres isto para os teus, para os do Outro ? Relaxe e sorria, como faz este meu amigo aí da foto que fiz dele na oficina. Que vá pro diabo este mundo, que eu não me chamo Raimundo ! – rimos, antes, durante e depois de voltar ao batente, devemos conviver com rugas, celulite, bronquite, AVC, astigmatismo, dementia praecox, pústulas, vaginite, artrite, patologias cárdiovasculares, depressão, psicose, mas todos querem é beber e comer o que bem ou mal lhes aprouver, entre uma bandagem e outra, maníacos-depressivos, o mundo é só ribalta, como escreveu o pobre Schopenhauer, amigo de Goethe, em O Mundo Como Vontade e Representação. Vamos melhorar, povo, o Mundo em tuas mãos ou pés.

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Pois é, meu prédio, enfim, será reformado, ora, é mesmo de não se crer que nalgum lugar haja gente insatisfeita. Vamos, à frente, as crianças, antes que o instinto de clareza lhes fuja, porque os adultos ainda não conseguiram enevoar de todo a sua cabecinha.

Texto e fotos: Darlan M Cunha

Sala de reboco. LUIZ GONZAGA canta e toca (LUIZ GONZAGA // ZÉ MARCOLINO, autores) : https://www.youtube.com/watch?v=UtpI8eB_2Gw