cda & dmc

cda, sem óculos

Quando me roubaram os olhos, pensaram que eu iria desisitir de ver e analisar, pensaram, com todas as forças ocultas que possuem, que eu assentar-me-ia à beira da estrada, só cantando lamúrias, vendo mulheres passar pra lá e pra cá, cada qual de braços dados com a sua febre, ora, ledo engano, porque, assim que me arrancaram os olhos, eu apenas os perdi, mas não perdi a capacidade analítica – que é justamente o que os atormenta, e um certo Carlos também sabia disso. Ora, todos os nomes e sobrenomes, toda a história da beleza e toda a história da feiura não são capazes de travar pensamento nenhum, advindo de quem quer que seja; e assim é que aqueles que me furtaram as íris estão em sérios apuros, uma dura luta dentro deles se desenrola como um caracol malvado sempre medrando de modo irreversível dentro deles e delas que me tiraram os olhos, ora essa, eu sou como um lagarto que pode regenerar uma perna perdida, ou o rabo deixado a algum predador, sim, meus olhos já estão de novo nascendo, cada vez mais limpos da sujeira geral.

Texto: DARLAN M CUNHA
Foto trazida daqui: http://twitpic.com/6sfwnj

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