Carta à MÃE – n. 312

Creia: uma foto de ontem da Mãe – continua assim, e mais, aos 91. Eu já disse, e escrevi: “Carregue água na peneira para a tua Mãe, sem desperdiçar uma gotícula sequer.”

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Carta à MÃE, n. 312

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Dona MARIA JOSÉ, minha festa junina

ontem, sexta, onze horas, radiante, fui buscar meu violão no luthier da região, mas ele nem pegara no instrumento que eu levara até lá para um reparo no braço. Fui na data marcada. Voltarei amanhã, a pedido do profissional em questão, meio ressabiado, é verdade [eu].

Mãinha, árvore frutífera

vamos a outros temas, aos horizontes ainda possíveis, sim, o mundo é vasto. Hoje, irei ao mercado central buscar queijos cabacinha e canastra, gengibre, alho, cebola, salsa, coentro, rúcula, agrião, milho verde, ervilhas e açafrão, e o que mais eu me lembrar, mas é preciso ir com os braços para cima, onde os preços estão, puxá-los para baixo, estão cada vez mais nas nuvens, queixas aumentam, no semblante geral quase não há lugar para o patrimônio nacional do riso franco do povo brasileiro, sempre com um sorriso.

Mãe, meu colar de luz, mas severa, se preciso

portanto, prepararei algo sumido da mesa, embora seja prato algo trabalhoso. E assim, ainda que chova canivete, a onça beba pinga, o elefante passe pelo buraco da agulha, farei estrogonofe de frango, do meu jeito, e assim almoçaremos juntos este petisco com folha de louro, orégano, açafrão, ervilha, milho verde, azeitonas e azeite, leite de coco, toda essa mistura indo entre um Uai e outro, som de poucos decibéis na caixa, bem entendidos. Travessia ampla no dia, Águas de Março no dia, Flor do cafezal na caixa, Valsa n. 1, Cuanto trabajo, também esta linda canção da espanhola/venezuelana Gloria Martín [Madri, 1945].

Dona Mãe, de fé cega nos Altos desígnios

não foi nada agradável medicar a Senhora, há duas semanas, vítima de virose violenta, alta madrugada. Dias de prostração para quem é a antítese visceral de ócio. Recuperada, a Senhora continua levando sol e lua nas mãos, a vizinhança agradece, e nada direi da família, das bisnetas e trinetas já agora rindo à toa, para ficarmos nos pequenos.

Dona MARIA, meu pé de vento, estrela de vida inteira

somadas todas as crenças, lendas, tabus, catarse e outras referências, apostas, perdas & danos, todas as teimas, sismos e cismas quanto ao que há de mais benfazejo no mundo, o que posso responder, cheio de obviedade, senão que é a Mãe ? Então, para este fervoroso sábado, um eco muito bom no céu da boca, ou seja, estrogonofe com batatas.

Beijos e abraços do primogênito, meio desmiolado, semi analfabeto, não só um colecionador de fiascos, e sim um bom garoto perdido nos breus do mundo vasto e gasto Mundo.

DARLAN