Cidades ou lugares – aonde ir e talvez ficar até… ?

Plano de voo [imagem Internet]
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As mãos da infância mal comportam a fome e a sede naturais da idade, não temem nada, a não ser a ausência materna, ainda que só pelo tempo dela ir ao mercado – Mãe, leva eu ! – pedem, exigem, instintivamente percebem que aquela luz é única, vão de olhos fechados, rindo, porque só a felicidade ri, ou seja, o riso é o lugar onde a pedagogia dos oprimidos deve ter sua vez de aprender mais e mais.

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Durante a minha sempiterna viagem à antiga capital Inca, Cuzco, viagem cheia de bons ventos, de idas e vindas ao Absurdo e à melodia do efêmero, cheia de endosso à melodia daquilo que em nós se torna memória eterna, vi a certeza de que chegaria bem até Machu Picchu, tendo partido de BH, indo a Corumbá, de lá até Quijarro, na Bolivia, finalmente, Machu Picchu – viagem pra macho e pra doido nenhum botarem defeito, belo cansaço, longuíssima estrada de ferro, mas fui e voltei bem no famoso Trem da Morte, que partia de Quijarro. Hoje, tanto tempo depois, cá estou, às quatro e meia de outra madrugada, numa paz que comumente não se tem, lembrando-me daqueles dias e daquelas noites entre pessoas da Noruega, Alemanha, Canadá, Brasil, Peru, Argentina, Chile, França, EUA, Inglaterra, México, lembro-me de duas garotas norueguesas e de outras, holandesas, algumas com o cabelo ao belo estilo maria-chiquinha, muito doidas também devido ao relevo andino, y otras cositas mas. Até hoje não sei como perdi a mochila, depois que voltei para casa, provavelmente na mudança de residência), sinto até mesmo falta física da pequena mochila verde, com uma bandeira brasileira, sempre às costas, que eu mesmo costurei, bandeira que consegui na Rua dos Caetés, em BH, com um dos comerciantes libaneses daquela rua, quem ma deu de presente (sim, ma deu). Tinha algo assim o meu tamanho exato aquela que se tornou parte da minha Estrada, a mochila do tamanho do Mundo. Hoje, há tantas câmeras no caminho, tantas violações ao básico, tamanha é a exploração comercial, agências de viagens sem preparo (não todas, não a maioria), etc, que onde há turistas em massa eu não vou nem se me pagarem régiamente.

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Infância é viagem. A Psicanálise pode levar-te à infância, mas se isto se dá, em geral há mais nódoas, rugas, nuvens e gotas rubras do que bocas de sorriso. Segundo uma sátira Darlaniana, sem número e sem data, “A cidade só se dá conta da infância quando alguma criança morre. Então, todos choram, logo esquecem.

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Texto: Darlan M Cunha

Trem do Pantanal. ALMIR SATER canta e toca (GERALDO ROCA e PAULO SIMÕES, autores): https://www.youtube.com/watch?v=VmOqKLKOASI