GENEALOGIA

Praça José Louzano da Silva, Miramar – BELO HORIZONTE, MG

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@1.uaíma

A praça é nossa, isso é o que todos dizem, e também é ou foi nome de programa de humor na televisão. Mas eu sei, e você sabe, que a parcela doente do povo brasileiro tem as praças como acessórios de descartes de suas iras, frustrações ou recalques antigos que por isso mesmo crescem sem parar, resultando em pixações, quebras de bancos, servem de sanitário, quando não de motéis, de modo que alguns dias depois de sua inauguração a maioria das praças está irreconhecível, e assim as jovens mães, as avós, as empregadas não podem levar as crianças para uma sessão solar, o vovô desiste de ler seu jornal, lá, debaixo de uma árvore. Definitivamente, em geral, não gostamos das praças.

@2.uaíma

Se e quando certas consciências se olham num espelho, desgostam-se de tudo, e até arremetem contra si mesmas, de pé diante do espelho, pelo que o rio represado livra-se, em parte. (Ruas de Psicopatologia).

@3.uaíma

Mas vamos ao largo, cantemos com Geraldo Vandré: Não viemos por teu pranto / nem viemos pra chorar / Viemos ao teu encontro […] / esperando nos salvar / A justiça e a riqueza / que fizemos por ganhar

@4.uaíma

Garota de boina e outros transeuntes

Passou por aqui uma garota de boina, passou por ali um rapaz de bom talhe, passou por essa praça um casal da antiga, cumprindo sua caminhada diária, alegres, bons dias se foram, outros virão. Eu também devo firmar os passos, e aprender com quem sabe mais do que eu, com quem viu e sentiu mais coceiras e cócegas, devo apreender o odor das plantas lá no mato, e o das ervas no prato; devo rir mais, rir faz muito bem à psiquê, bom astral, sim, vou melhorar, quero firmar o passo entre os pequenos, anônimas criaturas que, a seu modo sutil, constroem o Mundo. Antes, um cafezinho. Vamos nessa, Gente Boa.

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Darlan M Cunha: foto e texto