STRESSLAXING – 13

Mesa redonda, ilusão férrea de ótica.

*

@1.uaíma

Um dia na vida de cada um, seja quinta ou segunda, março ou novembro, somos todos nós umas reais “pancadas”, mas ainda com o supremo poder dos riscos e do riso, não há parar, não haja dormir por dormir, as pessoas querem mesmo é melhorar, isso me lembra uma canção que diz que “gente é pra brilhar, pra ser feliz”, algo assim, acertadamente, e assim aqui estou com a minha parte nesta aldeia cujo prumo está algo meio “torre de Pisa”, ou seja, algo fora de prumo, mas daremos jeito nas coisas, hoje ou amanhã, hoje e amanhã, lá vamos nós: olhos nos olhos, mão na mão, pisando em brasas e pisando em algodão, iremos até depois do fim do mundo. Eis a mesa posta, o peixe e o pão, os riscos e o riso na vida de cada qual, vamos ao dia, vamos nadar de braçada, dando adeuses ao azar. Chega de estorvos, estresses. Lembra.

*

manga e kiwi

***

Fotos e texto: Darlan M Cunha

STRESSLAXING – 11

Analisando, com muitas reservas (tá na cara e nos braços), certas atitudes dos adultos.

*

Fiquemos assim enquanto o asfalto esquenta, fico por cá, neste chão de formigas e lombrigas, feito um pacifista sem dentes, com olhos roxos e reviravoltas no estômago. Fique mais tempo fora de ti, o preço não é justo, excede o razoável, e assim não se poderá mais ser o que não se foi de todo: tu mesma, tu mesmo, eu próprio. Angústia do mundo pegando fogo, águas em brasa e as brasas já sendo cinzas, o gás carbônico e seu recado, o cemitério foi parar no meio da rua: a enxurrada levou seus moradores até as praças e ruas da aldeia, tristeza geral, mas quase todos fingem qua a felicidade está a um palmo do nariz, não, a um palmo está o desencanto, mas a alegria ainda respira, por aparelho, teimosa.

***

mundo vasto mundo / mundo gasto mundo [arte: Ai Wei Wei]

*

Mundo gasto mundo de avanços, titubeios e recuos, mundo de saladas, sopas & vegetações rasteiras, elos & ecos, eis aqui e ali um tubérculo de nome batata (Solanum tuberosa), escuta aí os risos distantes de crianças fazendo o que bem sabem: lambanças, cravo e canela, tu agora não queres mais ir a lugar nenhum que não seja à Casa do Amor, mas onde é este endereço: nas nuvens ?

***

Imagens e texto: Darlan M Cunha

STRESSLAXING – 7

AI WEI WEI – China. Exposição na sede do CCBB de BELO HORIZONTE – MG, 2019

*

HOJE SERÁ ONTEM, E O AMANHÃ TAMBÉM

Difícil adormecer, manhã de nunca vir, noite de sempre estar, bolo sem mofo, o redondo e o comprido das frutas onde devem estar, um e outro avesso passado a limpo, é preciso tocar em algo, perceber é um verbo, mas é uma atitude também, quase nunca em ação: perceber ressona sua humilhação no dorso perene, limpo de tudo nunca se está, sendo da índole humana algum sujo nas mangas da camisa, mas também nos tornozelos e nos punhos pode estar algum horror ternamente guardado. Olhar para o teto faz bem, não faz bem, noite de sempre estar, nova manhã de nunca chegar, é difícil acordar da insônia. Eis o lombo, de molho, o dia promete, quase tudo será igual a ontem, quase tudo, porque algo mudará, por sermos mutantes é que cantamos: Hoje eu vou sair de casa / vou levar a mala cheia de ilusão (Mutantes). Ilusão e estafa, estresse, ágorafobia, ágoramania, pois é, pra quê ? (Sidney Miller). Eis o cérebro cansado de esperas, stresslaxing. Deite-se, Senhora, deite, deite-se em minha grande cama de bronze / Lay lady lay, lay across my big brass bed / (Bob Dylan). E assim, que o mundo apresse ainda mais o passo, Mãe Pressa. Stresslaxing.

***

Foto e texto: Darlan M Cunha

STRESSLAXING – 6

AI WEI WEI (China) – Exposição na sede do CCBB de BELO HORIZONTE -MG, 2019

*

DOS PASSOS & TROPASSOS & TROPEÇOS DE UMA NEFASTA AVENTURA

Ágora era o nome que se dava à grande praça das cidades gregas antigas, era o lugar onde todos os cidadãos debatiam, e muitas vezes decidiam sobre isso e aquilo; por exemplo: na ágora de Atenas foi decidida a continuação da guerra contra Esparta, e assim por diante. Qualquer pessoa podia opinar, desde o filósofo Sócrates ao mais humilde cidadão. Entre nós há uma praça que é única no mundo, pela abertura aos elementos naturais, pelo tamanho, pela planura, pelo nome, e pela grandeza moral e técnica e científica de quem a projetou. Está de tal forma enraizada que se pode falar em ágoramania ou ágorafobia; é claro que isso depende dos intentos da massa popular pacífica ou de uma súcia mefistofélica que por lá adentre. Demokratía [grego].

@2.

Quantas histórias estes lugares devem ter para contar de homens e mulheres, de lagartos e abelhas, armas e versos, nuvens, baladas, um velho livro estendido sobre a cama, um jovem corpo estendido nalgum drama, mirando o teto, talvez, alguma incógnita geral, os dias sem dono, as noites sem ar, é preciso consertar o portão que dá para a rua, amanhã o comércio vai funcionar, sim, não há tempo a perder, tempo é dinheiro, dinheiro é vida, uma bebida antes da sopa ? Como é mesmo aquele refrão comparando o céu e a terra ? Quantas histórias tais lugares devem contar de mulheres e homens, estradas e encruzilhadas.

@3.

Histórias e estórias a granel, no atacado e no varejo, sempre e cada vez mais há estórias e histórias, ainda que sob a vigília de muros e nuvens, sempre haverá um ou mais feitores e contadores de fatos e lendas, eis a rua, eis o andante maestoso de uma sinfonia, o allegro ma non troppo de uma sinfonia, o staccato num violino, sim, na rua os fatos vivem a própria essência, levam e trazem consigo o todo das aldeias, a rua é o que há de melhor que a humanidade arquitetou, ela chora e ri, é um faz-tudo, é pau para toda obra, lugar de tragédia, de zangas populares, de festas anuais e discursos políticos, os atletas devem ser louvados na praça, as pessoas juntam suas bossas, suas mossas, é preciso visitar os doentes, catapultar o desânimo, loucura não dorme, há muitos medos ainda de origem desconhecida, há mortes demais nas pequenas e nas grandes aldeias. Praça é ovo, lembra, praça é ovo.

@4.

HELENA JOBIM (Crédito da foto: MARCOS VIEIRA / EM / D.A. Press)

*

A escritora Helena Jobim (1931-2015) morou perto da minha casa em Belo Horizonte – bairros Estoril e Buritis, respectivamente. O Estoril é cercado pela comprida, poderosa e bela avenida Raja Gabáglia, pela progressista favela da Ventosa (sem chiste), Vila Leonina (um bom hospital), bairros São Bento, Nova Barroca, Santa Lúcia, Estrela Dalva e o bairro Buritis (UNI-BH, universidade com cursos de medicina e odontologia; UNA-BH, umas dez áreas que vão da Administração à Biomedicina).

Pois bem, às vezes eu a via, e um dia eu lhe falei do excelente, doce livro que ela escrevera a respeito do irmão – Antônio Carlos Jobim – Um homem iluminado. Ela sorriu e disse: “Ah, são muitas histórias, Darlan. Viver é historiar.”

***

Foto e texto: Darlan M Cunha

STRESSLAXING – 4

A mente abrindo caminhos

*

LABIRINTO

A introspecção é um fato, e mesmo que sua origem não seja causada por algum medo ou por alguma dor ainda não especificada, antiga ou recente, ela investe para retomar algo de uma paz perdida, ou que nem chegou a ser experimentada pela pessoa que sofre; e se um rio é música, é melhor ter a si mesmo ou a si mesma numa de suas margens, enquanto ele flui; assim, o que era pavor de se abrir aos ventos do descanso, ou às perguntas de algum labirinto, possa, com muito esforço, tornar-se o salto definitivo para fora do escuro, porque só assim se pode almejar dar adeus ao recesso que é o grosso modo de viver.

***

Foto e texto: Darlan M Cunha

Arte do chinês Ai Wei Wei