segunda

Eis um trabalho de profundo senso crítico, de maestria social. Uma de minhas irmãs mo enviou, e assim que eu souber quem é a Autora ou o Autor, darei o crédito.

*

Segunda-feira é O CARA. Estão prontas e prontos para o batente, após um domingo de puro esticar de canelas, chinelos, camiseta, bermuda, foste àquela macarronada com a Sogrinha, e àquele aperitivo com o sogro e as velhas e as novas tias ? Chega de fútilbol e de novelas, de ontens e de amanhãs que quase nunca chegam como foram pensados. Pegue um livro, toque flauta, abra janelas, leia o mundo, berre um palavrão no seio da praça, candidata-te a ovelha negra da aldeia, algo que te dê algo mais do que uma vidinha corriqueira. Hoje é segundona brava, vamos a ela.

***

Darlan M Cunha

instante

instante
*

Já escrevi que a luz é a glória e o tormento do pintor, pois a cada volta do parafuso solar, ou seja, a cada instante a tonalidade muda, e o que era, por exemplo, azul, o preto logo embrulhou, talvez o devolva amanhã, caso não chova nos olhos do pintor, caso algum areal não varra o seu dia.

Foto e texto: Landar

TOQUINHO (Toquinho e Vinícius). AQUARELA. https://www.youtube.com/watch?v=njcAOjJayoE

conexão

Arte by DMC
*

Darlanianas

.

Sou um baobá – não os ecos de um inconfessável anseio humano.  //  I’m a baobab, not the echoes of an unmistakable human longing.

De manhã, erva-cidreira e hortelã, pitanga ou laranja, mate ou banana com mel, ou café com leite e pão com manteiga, paçoca de carne – ou nada, nada. Almoçar asilado ou exilado num canto de bar ou lanchonete, porque é assim que a Mãe-Pressa exige, pois é preciso vender o peixe bailando em cada anzol imaginário.

Terás muito do teu pai, bem mais do que o peso aparente, mais do que ou de quanto poderás livrar-te.

Há homens fúteis e mulheres iradas, naqueles dias, que sobem em escadas escorregadias e caem; mas em Viena, na Haus der Musik, há escadas que soltam notas musicais, assim que se pisa nelas.

Deus, que criaste a luz, não creias nos homens, eles são astutos e pérfidos, ateus de fundo largo e escuro, simuladores, mestres em disfarces, simbiose, analogias, mímeses, tarados pela música de ricochetes de balas. Erraste, ao criá-los – se é que existes, se é que os criaste.

Dá-me o enredo de Suema, a menina da etnia Yao (ou Ajauas, da Tanzânia) de nove anos, que pagou pela dívida da mãe para com o seu dono, o qual vendeu a menina para um árabe.

Uma gota de suor na ponta do queixo diz muita coisa. Luz ou breu.

I am an oak – not a tattoo.

A son of heresy.

Louco por triagens, vacilou diante da bruxa.

Não cantar para as nuvens, que o eco poderá ser uma chuva negra.

@2

Greta Thunberg’s Father: “She is happy, but I worry.” CNN, December 30, 2019

“Tenho a impressão de que a vilania está no ar.” – Marieta Severo, atriz – entrevista.

Certo Editor de Genes parece entender que “Esse caminho, nalguma parte do mundo, ou em várias, está sendo estudado.”

@3

Não farei discurso algum, e nem escreverei Memórias do Ano Tal, dentro do qual fui desinfeliz, saracoteado, morto. Nenhuma promessa de mudar de estilo, tudo em vão, promessas de não comer e nem beber isso e/ou aquilo, de não abrir o bico, nada de aprender a surfar, de meter no couro um amontoado de tattoos, chega de web, de dívidas (Ah, este Impossível nunca me aconteceu, vivo assim, sempre endividado com a Clareza), sem essa de abençoar os governos municipal, estadual e federal – eu mereço acho que mereço tenho certeza que mereço não ser esquecido por esse vil triângulo amoroso de impostos, eu ficaria melhor se compartilhando mil e uma noites e dias com Xerazade, Lady Godiva, Luz del Fuego, Cleópatra, Luizona Quebra Ossos, Betânia das Loucuras, Lucrécia Bórgia, Madame Min e Maga Patalógica…). Nada de choro, cuida-te das alas norte e sul, leste e oeste, cuidado com as lágrimas de crocodilo, vamos ao que interessa: 2020. Depois, me conte.

AQUELE ABRAÇO – COMO DIZ A CANÇÃO.

***

Arte e texto: Darlan M Cunha

SIDNEY MILLER. Pois é, pra quê ? : https://www.ouvirmusica.com.br/sidney-miller/

solitude

EDWARD HOPPER (USA) – Night-shadows, 1921
*



A EDUCAÇÃO PELA PEDRADA

.

Incógnita durante o voo

uma pedra caiu no quarteirão

vizinho, logo

duas e mais pedras retornaram

reabrindo o vínculo de parábolas,

o círculo de fogo pulverizando tudo

de forma que em breve faltará pedra

e a educação pela pedrada

ficará em maus lençóis, vazios.

***

Poema: Darlan M Cunha

as cidades, 2

Zé, ameno. Lá atrás, os humanos.
***


Galera (arte mural de GUD. Belo Horizone, MG, Brasil)
***

@1

Viu o primogênito tornar-se cada vez mais lépido e álacre, para depois desembocar num rio tempestuoso, cujas margens mais lembram uma grinalda marrom, suja, conspurcada, do que um trajeto comum como o de quase todos os desta aldeia. E se mais não foi, se não participou com todos eles e elas, menos se conforta, sabendo de tantas filiações de gosto amaro, que também é amara a aura que vem da pequena aldeia, e os exemplos que vêm da grande aldeia, como um cerco feraz e feroz, sem dar chance a que se saia de tal imbròglio, é algo assim como os cercos em cidades da idade média, e de antes de muito antes, com direito a estancar a água do castelo, botar fogo nas amuradas, de matar todos os homens, grandes, miúdos, de também levar as mulheres. Às vezes, nem isso. Pois é, viu sua prole debandar lentamente, um por um, uma por vez, até sentir, enfim, uma sensação de leveza. Falsa. Morto, meia dúzia de abnegados foi ao alegre gurufim,* mas nenhum sangue seu lá esteve. Nas horas que antecedem os funerais, se pode ouvir muito, um caleidoscópio, assuntos tantos quantas são as bocas ali entretendo-se com espasmos, choros, risos, um trago aqui e outro ali, porque um velório não necessita ser exatamente um defuntório, negação de tudo – mas isso depende exclusivamente do que foi o morto, de seu caráter comunitário ou não, de sua alegria espontânea ou de sua sisudez. Pois é, mesmo mortos, nós atuamos. Lembra, a cada passo, lembra. Bom, o café está chamando.

@2

Com uma caneca de café na mão, sento-me para ver algo da festa anual de San Fermin, na España, a qual consiste em sair correndo por aquelas ruas antigas estreitíssimas, sendo pisoteados e chifrados por touros de centenas de quilos, desabalados, atônitos e furiosos (não havia caminhões, tratores, só as carroças estreitas, além de que essa proximidade das construções ajudava no inverno, as casas geminadas mantendo um pouco de calor, já que qualquer tipo de calefação – madeira – não estava ao alcance da plebe ignara, da súcia mefistofélica, dos ningres-ningres, da escória social, da ralé, dos filhos de deus-o-solitário, da massa azeda, enfim, do povão. Igualzinho ao que ainda é até hoje, e continuará sendo nesse tempo de smartphone, que já está condenado a ser extinto daqui a cinco anos, segundo uma longa reportagem, uma entrevista dada pelo CEO da SAMSUNG, sim, senhorita, senhora, garoto e senhor. Eis aqui de novo a Mãe Pressa e o Tio Lucro. Não, é nada de se ser um retrógrado, isso é fora de questão tal classificação nesta Casa.

@3

Um dia na vida de Ivan Denisovich //  Odin den’ Ivana Denisovicha, é um livro do escritor russo Alexander Solzhenitsin (1908-2008), Prêmio Nobel 1970, publicado em 1962, dando conta do que este trabalhador fictício, que dá o título ao livro, passou no Cazaquistão, junto com milhares e milhares de outros dos vários países então satélites da CCCP/URSS, e de outros e outras na Sibéria, no Cazaquistão, com menos 40 graus quase o ano todo. Somente quando o termômetro marcava -41º, é que os capatazes sádicos suspendiam o trabalho. Ordem de algum burocrata numa enorme, maciça e bela mesa em Moscou, linda Moscou, mas São Petersburgo é mais. Solzhetitsin passou por tal provação. Sair vivo do verdadeiro inferno, após anos, sem ninguém se lembrar de você, é milagre mil vezes mil maior do que tantos milagres bem apregoados por pergaminhos, testamentos e estórias mentirosas de estátuas de santas encontradas à beira de rios mundo afora, encontradas por humildes pescadores, razão pela qual as mãos dos padres ficaram tão felizes ao verem que seu trabalho acertou no alvo, bem na mosca pousada na credulidade de tanta gente, enfim, fizeram valer seu profundo conhecimento de que o povaréu é mesmo crédulo. Pauca sed bonas / Poucas coisas, mas boas – em latim. Estou com raiva, estou esnobando. Mudando de assunto, mesmo sendo o mesmo, certa vez encontrei duas pe(s)cadoras à beira do Rio Santa Bárbara, cidade de nome igual, a 110 km de BH, uma cidade do núcleo das cidades históricas de Minas – o presidente da república Afonso Pena nasceu lá, a Casa está conservada, acho que é Centro Cultural desta cidade na qual morei. Pois é, foi lá que um jovem inocente encontrou duas pe(s)cadoras, e logo foi muito bem agraciado, o altar foi a água. Ó vida finita, cheia de imprevistos, de caminhos e descaminhos, melhores são estes, os imprevistos.

@4

Sento-me com outra caneca de café e uma lasca de requeijão da minha cidade natal – Medina – nordeste de Minas. O dia convoca, mas não quero ser reserva, reservista nem reservado.

***

Fotos e texto: Darlan M Cunha

Roberto, Erasmo…