A força da abstração
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ALDEIA
E porque hoje é sábado, amanhã domingo será – salvo alguma mudança, que o inesperado existe e não sossega, não conhece cama. A aldeia esconde histórias de não se crer nelas, de tão absurdas, de tão realistas, ela tem todos os tiques, todos os temperos humanos e desumanos, de deixar o Diabo aflito, a inveja transtornada, tesouros de sempre e de nunca mais, tesouros de arrepiar os flancos e o meio, nada mais e nada menos nos cantos da boca do que um sorriso enigmático, algo assim da velha Gioconda revisitada, mas o mundo exige mais sombras, cabendo a todos doar o que lhes reste de luz ou de cruz, que o resto é segundo plano. Lembra que o sol aqui é raro, o sal aqui ainda é o salário, o som aqui não se abre alto, a aldeia esconde fatos, o açúcar está regrado, o caos vive logo atrás do morro, é uma visita constante, é de casa, embora que deste lado do rio todos lutam para não se alienarem de todo. Dúvidas são estresse.
@2.uaíma
A avó está de pé numa praia, olha e reolha com calma todo o entorno em 360 graus, ela é do tamanho do silêncio e da bondade, tão antiga quanto o mar ela é, caminha sobre outros rastros, porque o mundo é sinônimo de rastros, a vida é cheia de vestígios dos antepassados, sejam eles peixes, formigas ou dinossauros, montanhas ou vulcões, tudo deixa marca, a vovó caminha sobre elas, enquanto deixa as suas que logo se transformam em canteiros floridos, para espanto dos praianos. Encantada vovó.
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Foto e texto: Darlan M Cunha