ameno

Mímese

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Vontade antiga de se fazer invisível, escutar e bolinar sem que se saiba de onde tal e tal impertinência, risos vindos de não se sabe, as pessoas atordoadas, e tome mais beliscões do invisível, a figuração desta mímese não sendo possível, de fato, não há nada igual a estar invisível aos outros, entrar e sair sem ser percebido, escutar intrigas palacianas, borboleta ou percevejo, cobra ou formiga, o ar em seu estado natural, vozes vindas de não se sabe onde, o nome disso é acusma, ou seja, quem ouve vozes, estás no rumo certo da loucura, correr é inútil, aprenda a ser invisível, isso faz toda a diferença: ser invisível.

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Mímese

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E porque hoje é domingo, pede cachimbo, jogar ludo, damas ou bingo, pés no chão e cabeça oca, ir aos assados ou frituras, o frango e a macarronada, santo domingo, nada de pranto dominical, porque hoje é dia do Nada Consta, abram alas para o riso, piada de salão ou piadas picantes, estás sem dindin ? Não te preocupes, e sê feliz mesmo assim (é possível), isso porque hoje não é amanhã, faz do hoje o teu dia, teu amor, agarra-te ao domingo, e bebe um pingo, muda de nome: Dingo ou Mingo, Conrado, Abel, Lico ou Esculápio, que tal os nomes Abidiel, Eufrásio, Jonas da Baleia, Abílio Cunha da Mata, Armando Vara Souza Pinto, Meu marido Oscar, Jatene. Que tal estes: Diná, Arletilda, Anja Cremilda, Cleópatra, Zínia (serás flor), sim, porque hoje é domingo, mudarás o modo de como vês o mundo vasto mundo, mudarás de lugares contigo, com ele, com ela, talvez comigo.

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Fotos e texto: Darlan M Cunha

ENCONTROS e DESPEDIDAS. Nascimento / Brant. : https://www.youtube.com/watch?v=FiLYn6Xkn8U

Carta à MÃE n. 302

AVÓ, NETO e BISNETA – FL, EUA [Dona MARIA, então com 86 anos; já em 2022 com 90 anos].

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CARTA À MÃE n. 302

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Dona MARIA, minha sequência de alegrias, cálice bento

Hoje eu me levantei com uma sensação de que algo estava assim sumido da minha vidinha de calhambeque abandonado – mas não era a Senhora. Pois é, levantou-se comigo um inenarrável bom humor, e assim, enquanto eu bebia café e beliscava pão com manteiga, eis que um assombroso ou mesmo um desassombrado pensamento veio: Será que eu estou leve e feliz porque sonhei que os preços caíram do Everest, e outros desabaram direto das nuvens negras onde estavam, pelo que o Povão desgringolou, e está lotando feiras e mercados, confiantes nos seus últimos caraminguás (dinheiro), e assim comprando o que fazia tempo que estava racionado em casa ? Mãe, liguei as telas todas elas, mas nada disso aconteceu, porque tudo continua na mesma, no breu mais escuro, e assim me lembro de três adjetivos exatos para nós, o povo: anuro micruro macruro, ou seja, sem rabo, de rabo curto, de rabo grande. Rabo grande tem o povão, sempre bem pisoteado, porém, falemos de fatos bons, porque existem e existirão enquanto houver boas Mães. Mãe é Mãe.

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MÃINHA [como se diz no norte de Minas e na Bahia, etc: MÃINHA), estrela de vida inteira

Olha, Vovó de Outro Mundo, vá devagar por aí, cuidado com as crianças, sei que é da juventude andar e perambular, bater pernas, ler, etc, e todas e todos sabem que a Senhora é de fato supra sumo na matéria de viver com alegria indomável, mesmo com os entornos quase todos obstruídos ou proibidos ao riso legítimo, sim, eu também sei de duas ou três coisas, dá para o gasto, mas eu caio todos os dias, todos os dias volto escalavrado para dentro do barraco, puxa vida, o mundo está descontente com o que ele mesmo criou, e ainda reclama, mas põe mais fogo nas chamas, mais fogueira na lenha, e mais distância em cada senha ? Mamma mia! Onde estou, estamos nós ? É como diz o Bituca, na bela canção: Que tragédia é essa que cai sobre todos nós ? Palavra do Milton, a Senhora sabe.

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MÃINHA, meu ALGUM DOM DOCE, meu alvoroço no Bairro e na Aldeia BH, minha sina geral

Meu novo livro está enfim terminado. Agora começará a grande batalha da publicação, mas me aquieto ao me lembrar dos vários ditados populares que a Senhora sempre repete, e nós todos caímos na gargalhada, mormente as netas lindonas que não se aguentam de tanto rir, pois é, a Senhora diz, por exemplo, que A peteca não cai do meu lado, e assim é que irei a essa luta de papel não picado, não, será impresso em papel.

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Dona MÃINHA, anágua branquíssima do mar, espuma das ondas

Vou me despedir, mas não sem antes dizer que amanhã bem cedo irei ao fabuloso Mercado Central de BH, vou comprar um queijo da Serra da Canastra, região de vários municípios queijeiros desta famosa Região de Procedência Qualificada: São Roque de Minas, Medeiros, Vargem Bonita, Tapiraí, Delfinópolis, Bambuí e Piumhi. Claro que voltarei ao famoso Bar do MANÉ DOIDO, no famigerado Mercado Central de Bêagá. Encomendei um caminho de mesa para a Senhora, feito a mão. Sei que a Senhora também faz, mas é um presente de filho pra mãe.

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Dona Maria, minha mania, estrada de Sol

fico por aqui. Um beijo e um abraço, ambos maiores do que o Universo, deste filho meio desmiolado, quase analfabeto, mas bom garoto

Darlan

MILTON NASCIMENTO, PROMESSAS do SOL. https://www.youtube.com/watch?v=a_DsDttfZhY

04/03/2022

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24/05/2022

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Março: lei marcial ou [nº 1]

OU CONTINUAR (esta enfermeira, muito gentil e dentro da Lei, permitiu a foto ao vacinar a minha Mãe – algo geral)
OU FICAR NA ENCRUZILHADA

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SE NÃO COM A VIROLOGIA DO DIABO ?

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CÓDEX GIGAS // A BÍBLIA DO DIABO (Escrito na Idade Média, Autor Desconhecido)

CÓDEX GIGAS   // A BÍBLIA DO DIABO

Este calhamaço está em exibição na Biblioteca Nacional da Suécia, em Estocolmo. Uma de suas ilustrações, mostrando o Diabo, tornou-se irresistível através dos séculos ao nosso imaginário. Escrito na Idade Média. Ele tem 610 páginas, mede 89 cm de altura, 49 cm  de largura, pesa 71 (75 ?) quilos, todas as páginas são pergaminhos feitos de pele de bezerros – pelo que estima-se que foram necessárias as peles de 160 bezerrinhos para fazer este livro, num espaço mínimo de cinco anos, todos os dias e noites, à luz de velas, sem essa mordomia nossa de luz elétrica a qual só apareceria uns mil anos depois. Essa beleza, este esforço monumental tem metal na capa e na contracapa. Foi escrito provavelmente nalgum mosteiro de onde hoje é a República Checa, e é mesmo, sem favor, coisa de outro mundo, de gente, do diabo. Instrutiva leitura, aprendizado de não se esquecer.

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ROUPAGEM, GÊNERO DE PRIMEIRA NECESSIDADE.

Fale, quem saiba. Ontem, no Mercado Central de BÊAGÁ, ouviu-se que “Será preciso decretar lei marcial para que tantos e tantas se toquem ? Se as mães destas pessoas precisarem de leito ou de maca, elas se lembrarão de algo. Tarde demais ?” Estas considerações duríssimas, com 101% de razões de serem ditas e cobradas, ouvidas neste domingo 28. Março já está aqui com cara de bons e também de poucos amigos. Escolher.

@2. O ALICIANTE

O Diabo no meio do redemoinho – lá está, bem assente no assombroso livro Grande Sertão: Veredas, do médico e diplomata João Guimarães Rosa. A minha avó materna Senhorinha Maria de Jesus mãe do meu pai Elviro dizia que o Diabo planta floras e jardins de grande beleza sim meu neto predileto – ela me dizia – o Diabo tem mil mais mil milhões de truques e com eles engaloba os gulosos e as apressadas e pega os incontáveis egoístas e preguiçosos, sim, pode acreditar na sua avó aqui no meio da fazenda em Pedra Azul onde o Demo já quis entrar aqui o próprio Belzebu em pessoa mas encontrou chicotes e rezas brabas e mil e um excomungos em cada mourão da cerca e água benta e baldes e mais baldes de cruzinhas de madeira misturados com caca de gato e rabo de tatu, bem picado e cachaça com ranço de mulher velha e limão-capeta [o Mal contra o Mal], e foi um fuzuê foi sim um furdunço um estropício e um estrupício e palavrões para o Tinhoso bambear sim pro Pemba desmaiar e a gente cair de solfejo para cima do Dito Cujo Infernoso e tenebroso foi aquele dia que escurou e escurou de vez sem dar um tempo nem de ir no mato fazer necessidades – qui u quê ! – foi um frege ó meu neto mais velho Darlan desmiolado você é, ó mas fazer o quê, aprende então a lição: o Diabo é cheio de truques, e se embeiça logo com o mulherio, mas é de bom alvitre dizer que a recíproca é verdadeira, nem sempre, mas é, sim o Capeta veve tocando viola, ele canta uma musga muito perigosa que tem o refrão assim: “Tem, mas acabô.”. Muito cuidado com essa musga do Pé Torto. Por falar nisso, entre outras perdição, você toca violão, meu neto desmiolado ? Não, Vó, eu até ia aprender, mas é difícil, e eu desisti. Vou ser só, e só humano…

Darlan M Cunha

Domingueiro no Dia da Vovó

GUDE // MARBLES: A infância revisitada // The childhood revisited

@1
Deixando de lado as apreensões comuns a todo mundo, as pessoas ficam contentes se todos e todas da família vencem a si mesmos, vencem no duro páreo social, de uma forma e de outra. Em outras palavras, ficam rindo à toa. Há pessoas que entram nos domingos com a mesma leveza com a qual entram numa segunda-feira, como quem vai à feira de rua, como quem vai a uma caminhada esportiva, sendo que estorvo, raiva, inveja e desânimo são vocábulos desconhecidos, atitudes vazias. Mamma mia !

@2
No Mercado Central de BH comprei pimenta malagueta, e várias outras, e já as coloquei no óleo. Em breve, derramarei outro tipo de lágrimas.

@1.1
Leaving aside the apprehensions common to everyone, people are happy if everyone in the family wins over themselves, wins in the hard social field, in one way or another. In other words, they laugh for nothing. There are people who enter on Sundays with the same lightness with which they enter on a Monday, like those who go to the street fair, like those who go for a sports walk, being that hindrance, anger, envy and discouragement are unknown words, empty attitudes. Mamma mia!

@2.1
In the Central Market of Belo Horizonte I bought chili peppers, and several others, and I already put them in oil. Soon I’ll shed another kind of tears.

@3 Não há como e nem porque abandonar o sentido de uma revolta interior que tanto bem nos faz, porque ela nos defende em certos momentos.

@3.1 There is no way and no reason to abandon the sense of an inner revolt that does us so much good, because it defends us at certain times.

@4 Impertinente, a infância ainda corre por aqui com bolinhas de gude, finca, patinete, o V das galinhas (osso fúrcula, osso da sorte), a farra no barro ou numa poça de água…

@4.1 Impertinent, childhood still runs around here with marbles, finca, scooter, the V of chickens, party in the clay or in a puddle of water.

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26 de julho é o dia

: darlan m cunha

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FOTO das bolinhas de gude: https://dicionarioegramatica.com.br